Lançamento do livro “A Voz Cadáver” encerra Semana da Justiça pela Paz em Casa na Paraíba
As últimas frases dramáticas de dezessete mulheres, antes de se tornarem vítimas e estatísticas do feminicídio, compuseram o livro “A Voz Cadáver”, de autoria da professora e pesquisadora Patrícia Rosas.
O lançamento da obra marcou o encerramento da Semana da Justiça pela Paz em Casa, esforço concentrado promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), e órgãos parceiros, para impulsionar os julgamentos de processos com a temática da violência de gênero, dando visibilidade e efetividade à Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), além da realização de ações de acolhimento e conscientização.
A solenidade aconteceu, sexta-feira (28), no auditório do Fórum Criminal da Capital e teve a participação de representantes do Judiciário paraibano, Associação dos Magistrados da Paraíba, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública do Estado, Ordem do Brasil Seccional Paraíba (OAB-PB), Secretaria Estadual das Mulheres e da Diversidade Humana, Programa Antes que Aconteça, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Secretaria Extraordinária de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa e Ronda Maria da Penha.
Na abertura, todas as autoridades que compuseram a Mesa de Honra, foram unânimes em destacar a importância da atuação conjunta de rede no enfrentamento e combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, com um olhar especial, principalmente, no período da realização da Semana da Justiça pela Paz em Casa e a necessidade de mais acolher, conscientizar sobre o ciclo da violência e proteger as vítimas.
Cada representante falou da realidade drástica e comovente, demonstrada pelos números alarmantes da violência contra as mulheres, a exemplo da coordenadora do “Antes que Aconteça”, Camila Mariz, inciativa com a finalidade de despertar e acolher as mulheres, tendo relatado a ocorrência de mais de 700 atendimentos, em seis meses de funcionamento do programa.
A coordenadora da Mulher em Situação de Violência do TJPB, juíza Graziela Queiroga, agradeceu aos parceiros do TJ na iniciativa e destacou o acolhimento e o enfrentamento como elementos essenciais no combate à violência de gênero. A magistrada também enfatizou o significado simbólico de encerrar a última edição da Semana da Justiça pela Paz em Casa na sede do Fórum Criminal, espaço onde são realizados júris de feminicídio e onde inúmeras vítimas têm seus sofrimentos relatados em processos judiciais contra seus algozes, espaço de reflexão, reforçando a relevância de se destacar a crescente onda de violência doméstica com o registro da ocorrência de 31 feminicídios na Paraíba.
“Encerramos mais uma Semana da Justiça pela Paz em Casa, ocasião em que foi um evento intenso, marcado por muitos julgamentos, ações e serviços voltados para mulheres vítimas de violência. E hoje aqui no Fórum Criminal, dentro dessa sala, no Tribunal do Júri, emblemático, nós escolhemos fazer justamente esse chamado maior e esse olhar para aquelas mulheres vítimas de feminicídio, tentados ou consumados e juntos, unidos, estamos atuando para evitar esse câncer social que é a violência de gênero”, evidenciou.
A obra - Professora há 22 anos, além de escritora e pós-doutora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Patrícia Rosas, que viveu parte de sua infância em um lixão, na cidade de Campina Grande, explicou que o livro de narrativas de feminicídio, “A Voz Cadáver”, integra a Coletânea Quarto de Mulher, composto por mais dois livros: “Partência”, como parte e existência, pertencimento e transcendência e “Crua”, que trata sobre a mulher ideal, não perfeita, mas crua!
“A Voz Cadáver é um livro que venho construindo desde 2021, que reúne falas de mulheres vítimas de feminicídio no Brasil nos últimos anos. Essas mulheres muito mais que falaram, elas deixaram protocolos de socorro. São falas que representam mulheres trans, negras, e mulheres que foram assassinadas em casa e nas ruas, para que possamos escutar essas vítimas, mesmo que de forma póstuma, possamos passar a escutar as que estão vivas e evitar novos crimes”, realçou.
Esforço concentrado - A Semana da Justiça pela Paz aconteceu de 24 a 28 deste mês, com abertura na Comarca de Sousa, no sertão da Paraíba. No período, foram realizadas mais de 800 audiências previstas, envolvendo o trabalho de magistrados (22 designados adicionais), além dos três titulares, 15 promotores e defensores públicos, e contou, ainda, com a realização de júris populares envolvendo casos de feminicídio.
Fora a ação conjunta no impulsionamento dos processo judiciais, a Semana também foi marcada pela inauguração do Projeto ‘Virando a Página’, convênio entre o TJPB e a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), destinado à remição de pena por meio da leitura, atendimento especial às vítimas junto com parcerias institucionais e a realização da palestra “Caminhos para o Bem-Estar Emocional”.
Por Lila Santos
Fotos: Ednaldo Araújo
































